Filha de Beto Barbosa pode ter morrido por bactéria super-resistente

Não se sabe ao certo quantas pessoas já morreram por causa dessa bactéria, chamada KPC. Mas os especialistas acreditam que, pelo menos, metade dos pacientes que se contaminam com ela não sobrevive. E isso pode ter acontecido com a filha do cantor Beto Barbosa. 

Uma música que transmite alegria. No palco, Beto Barbosa, o rei da lambada. “As pessoas esperam ver Beto Barbosa cantando no palco, dançando. Eu dizia: ‘Meu Deus, eu vou cantar, mas como eu vou conseguir dançar?’”, conta o cantor. 

A dor é pelo luto de Monique. A filha do cantor morreu há uma semana, vítima de uma doença misteriosa em Belém do Pará. A jovem tinha uma dor de garganta quando foi ao médico a primeira vez. 

“Uma jovem sadia, de 28 anos de idade, que adoece em um dia e morre com 28 dias depois já entrando em coma?”, questiona Beto Barbosa, o pai de jovem. 

“Ela chegou à UTI consciente, ainda conversou com a gente, pediu para a gente ficar calmo, que estava tudo bem”, declara José Luiz Barbosa, irmão de Monique. 

Beto Barbosa tem quatro filhos adotivos, Monique era a única mulher. Sobrinha do cantor, ela foi adotada legalmente assim que nasceu. “A minha filha era assistente social e ajudava muito os ribeirinhos. Além da dor que a gente sente, a gente sente outra dor, que é não saber de que o filho morreu”, afirma Beto Barbosa. 

“Foi criada uma junta médica dentro do próprio hospital para cuidar do caso dela”, conta Luiz Barbosa, irmão de Monique. “Nós estávamos diante de um quadro muito difícil. Nós fizemos mais ou menos em torno de oito antibióticos”, revela o médico Benedito Hélio da Silva Queiroz. “E nenhum antibiótico fez efeito”, lembra Luiz, irmão da jovem. 

Vários exames ainda devem ser concluídos. Um deles dirá se Monique estava contaminada pela KPC, uma bactéria super-resistente. 

A KPC é a mutação genética de uma bactéria que existe no nosso corpo e que, em geral, é inofensiva. Ao sofrer a mutação, em hospitais, torna-se resistente à maioria dos antibióticos que deveriam destruí-la. É o que faz dela uma bactéria hospitalar super-resistente. Os antibióticos destroem as bactérias normais, mas as mutantes sobrevivem e se reproduzem. 

“Ela pode causar vários tipos de infecção. E, o que é pior, ela pode causar uma infecção generalizada atingindo múltiplos órgãos ao mesmo tempo”, declara Marcos Antônio Cyrilo, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia. 

O alerta mais recente sobre a presença da KPC no Brasil foi dado em Brasília. Segundo as autoridades de saúde, a bactéria já foi detectada em nove hospitais públicos e sete particulares do Distrito Federal. 

Este ano, 15 pessoas morreram vítimas da bactéria. Uma das vítimas foi o pai de Geraldo Diniz. “Agora só o tempo mesmo para passar a dor, a perda”, confessa. 

O primeiro registro da KPC foi no Recife em 2006. Depois, foram registrados casos no Distrito Federal, Paraíba, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná. 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alerta que o número de casos pode ser maior. “Não temos a dimensão do problema nos outros estados. Se for procurar nos grandes hospitais brasileiros, a maioria já deve ter estas bactérias”, declara Héder Murari Borba, da Anvisa. 

O Fantástico teve acesso ao hospital da cidade satélite de Santa Maria, em que quatro pessoas morreram este ano. Segundo o superintendente, os números só aparecem, porque no hospital o exame de identificação da bactéria é feito, e o resultado é comunicado às autoridades de saúde. “Todo paciente que dá entrada para ser internado no hospital é rastreado para este tipo de bactéria”, afirma Evandro Oliveira, superintendente do Hospital de Santa Maria. 

A bactéria KPC ataca pacientes com o estado de saúde muito debilitado e que já estão mais vulneráveis às infecções. Em geral, são pacientes que se encontram internados em unidades de terapia intensiva. 

Hoje, a notificação dos casos e os testes para a existência da KPC não são obrigatórios. A Anvisa quer mudar isto. 

“O veículo mais importante para a transmissão de qualquer infecção hospital é a mão: do doente, do acompanhante, do profissional de saúde, seja lá quem for que pegue nele, não higienize a mão e vá pegar em outro paciente”, afirma Eulina Ramos, gerente de investigação de infecções da Secretaria de Saúde do DF. 

Por isso, entrar e sair das UTIs exige cuidados. “O importante é que a gente garanta que todas as partes da mão recebam o sabão e sejam friccionadas”, destaca o infectologista Henrique Marconi. Um gesto simples, que pode fazer diferença.

G1