Mangue Seco, na Bahia, corre o risco de sumir do mapa


Extremo norte do litoral baiano, região de mar agitado e praias desertas. Estamos no único caminho para se chegar de carro a Mangue Seco, na divisa da Bahia com Sergipe.
O cenário é um dos cartões postais do Nordeste. São as famosas dunas de Mangue Seco. O povoado fica logo depois. Os moradores vivem apreensivos. Rio avançando de um lado, mar crescendo do outro, e as montanhas de areia se movimentando rapidamente em direção às ruas. 
”Provavelmente o movimento das dunas em Mangue Seco é mais relacionado com a retirada da vegetação, que protege e estabiliza as dunas”, explica o pesquisador do Inpe Carlos Nobre. 

Uma pousada só está em pé porque o dono plantou arbustos e salsa, uma vegetação rasteira que dificulta o avanço das dunas. “Se não tivesse plantado essa vegetação, a pousada já teria sido soterrada", destaca o dono de pousada. 

A dona de casa Raimunda, uma das moradoras mais antigas, diz que as dunas já engoliram metade do vilarejo: “Depois dessa aqui que nós estamos, tinha outra praça, depois dessa praça tinha mais uma rua onde morava a minha avó” 

Há 15 anos as dunas não existiam, essa área tinha pasto e coqueiral. A maioria dos coqueiros foi soterrada. Dos que ainda resistem restam as copas. Agora dá para colher coco na altura do chão. 

Do outro lado, a ameaça são as águas do Rio Real. Avançaram mais de 200 metros nos últimos anos. 

“Nós estamos aqui apavorados”, diz uma moradora. 

Mais adiante é o mar que avança sobre o último pedaço, ao norte, do território baiano. 

“O nível do mar subiu no século 20, na costa brasileira, em média 20 centímetros”, informa Carlos Nobre. 

“Onde isso está acontecendo com mais intensidade? Exatamente nas embocaduras, que são as áreas mais frágeis do litoral, que precisam ser monitoradas”, destaca o professor e pesquisador da UERJ David Zee. 

Bem perto de Mangue Seco,em Sergipe, o povoado da Praia do Saco também enfrenta os efeitos do avanço das águas. Dois rios se encontram com o mar. O Rio Real, do lado da Bahia, e o sergipano Rio Piauí. O resultado desse choque de correntezas é devastador. Metade de uma rua foi destruída. 

“Se a gente é muito guloso e fica com aquela ânsia de morar muito perto da água, de repente a gente extrapola e começa a entrar na zona de risco ou zona de variação”, alerta David Zee. 

Felizmente não houve vítimas. São casas de veraneio e os desabamentos ocorreram no inverno. 

“Para fauna temos vários tipos de impacto. Era uma região onde seria esperado observar peixe-boi, não é observado na região há bastante tempo. Toda a modificação da largura do rio, certamente teve impacto na população de peixes”, exemplifica o professor e pesquisador da Unicamp Carlos Joly. 

“O caso do Mangue Seco é um caso típico que vai acontecer em várias regiões do Brasil, principalmente naquelas em que homem está ocupando com mais intensidade e com falta de cuidado e respeito a essas condições ambientais locais”, alerta o pesquisador David Zee.

G1