Couro processado na Paraíba vem de fora

A Paraíba, na última década, viu a produção de couro sofrer uma queda significativa no Estado. O trabalho com o couro cru praticamente deixou de ser realizado e, no período entre 2005 e 2012, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os estabelecimentos que atuavam na produção deste material fecharam. Antes eram 10 estabelecimentos em plena atividade e, atualmente, não existe nenhum em atuação efetiva. As atividades com o couro, na Paraíba, passaram a se concentrar no beneficiamento do produto tendo que adquirir o material de outros estados.

De acordo com Eugênio Fasselli, coordenador da planta de couro do Senai/Centro de Tecnologia do Couro e do Calçado, nos últimos anos a produção de couro perdeu espaço para o curtimento, que é o beneficiamento do produto e a elaboração de peças com o referido material. A pequena produção que ainda é feita no estado, segundo ele, é voltada para estudos. “Não é uma produção para atender a demanda de mercado. O que garante matéria-prima para a fabricação de produtos é a aquisição do couro vindo de outros estados, como Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia e Pernambuco”, disse.

Atualmente, existem apenas quatro curtumes ativos na Paraíba (em Monteiro, Itabaiana, Cabaceiras e Campina Grande), conforme informou Eugênio, mas eles trabalham apenas com couro tipo wet blue, voltado para a produção de calçados de segurança e demais equipamentos de proteção individual (EPIs), como luvas. Apesar de não ter uma produção de grande porte e ter que adquirir o couro para poder fabricar os artigos, a Paraíba mantém um bom nível de produção de peças em couro que são comercializadas internamente, mas também vendidas para outros estados e, até mesmo, importadas para outros países, de acordo com o secretário executivo de Indústria e Comércio da Paraíba, Marcos Procópio.

E para alavancar esta produção, o Governo do Estado, através do Empreender Paraíba, vem incentivando a produção de couro na região do Cariri, com iniciativas que facilitam a contratação de empréstimos por parte das pessoas que trabalham com curtimento de couro e artesanato. Desde o ano passado, o programa concedeu empréstimos na ordem de R$ 240,8 mil para a compra de novos maquinários e a instalação de outras máquinas adquiridas pela Cooperativa dos Curtidores e Artesãos em Couro de Ribeira, em Cabaceiras.

A medida elevou a produção de peças em 25% e beneficiou 55 famílias que vivem deste trabalho. Segundo o diretor-presidente da cooperativa, José Carlos de Castro, com o dinheiro do Empreender foi possível elevar de 4 mil peles de cabra curtidas por mês para 7.500 unidades.

CURTIMENTO É UM DOS MELHORES
Entre os tipos de couro curtidos na Paraíba, o de couro de caprino, no processo de curtimento vegetal adotado pelo Curtume de Ribeira, é um dos melhores do país, praticamente sem odor. A pele é comprada em Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. Depois do curtimento, ela é vendida para vários estados do Brasil. Isso foi possível graças ao sistema de associativismo.

Antes da existência da cooperativa, as pessoas disputavam o mercado individualmente, mas há 14 anos passaram a ter mais lucro de forma consorciada. Na região de Cabaceiras, a cultura do couro é centenária. Hoje em dia cada cooperado consegue ter uma renda regular, que chega a R$ 1.500 mensais. “A renda não é fixa. Se ganha por produção. Ganha mais quem produz mais”, salientou José Carlos.

A cooperativa compra o couro conservado no sal. O curtimento inclui lavagem, retirada do pêlo, descarne e a parte final que é o curtimento e a graxa. Depois de secar, a matéria-prima chega ao estágio de tingimento. A lavagem do couro dura, em média, quatro horas. Em seguida, o couro recebe óleo vegetal para amaciá-lo.

Depois da secagem, as peças passam pelas prensas para a retirada dos pelos. Como produto final, o couro se transforma em bolsas, selas, calçados, carteiras, chaveiros, cintos, roupas, entre outros produtos. O couro utilizado é praticamente só de caprinos. O de origem bovina representa um percentual em torno de 10%.

SALÃO DE ARTESANATO É VITRINE PARA PRODUTORES
Os produtores de artigos de couro encontram no Salão do Artesanato, realizado anualmente, no mês de junho, em Campina Grande, uma vitrine para seus produtos. A iniciativa é uma das melhores oportunidades existentes no estado para a comercialização, em grande escala, das peças feitas pelos artesãos que trabalham com esta matéria-prima.

Maria Helena da Silva Melo é artesã de Campina Grande, assim como seu marido, Rosélio da Silva, que trabalha há 15 anos fabricando artesanato em couro. Ela revela que é com a participação no Salão que o casal consegue fazer a maior renda ao longo de todo o ano. “Nos outros meses, quando não tem o Salão, as vendas não são tão significativas, mas em junho conseguimos ter um faturamento equivalente ao dobro de outros meses”, conta a artesã.

Ela e o marido fabricam de chaveiros a calçados, passando por quadros, bolsas, chapéus, entre outros artigos, o que lhes rende cerca de R$ 1.500 mensais. Com o Salão, o faturamento dobra e chega a R$ 3 mil. “O que vendemos no Salão em alguns dias supera em muito o que vendemos na Vila do Artesão, onde temos box, ao longo de muitos meses do ano”, frisa Maria Helena, acrescentando que no Salão consegue manter contatos e receber encomendas de vários clientes para ao longo do ano. Ela tem clientes de São Paulo, Recife e de diversas cidades paraibanas.

O senhor João de Milton também comemora os bons resultados obtidos graças ao Salão do Artesanato. Ele trabalha há 25 anos com o artesanato em couro e destaca que são eventos como o Salão que garantem visibilidade para os profissionais artesanais. “Nos outros meses do ano, já cheguei a ficar dois meses sem vender uma única peça. No Salão, começo o evento com uma demanda de 40 peças, mas mantenho uma produção diária para repor estoque, porque a procura é grande. O Salão é o que salva a renda do ano”, ressalta.

O Salão do Artesanato da Paraíba fica aberto até o dia 30 de junho e funciona diariamente das 15h às 22h, na Avenida Severino Bezerra Cabral, no bairro do Catolé, na antiga Candesa. A entrada é gratuita. O evento tem como parceiros o Sebrae-PB, Prefeitura Municipal de Campina Grande e a Água Mineral Platina.

Tatiana Brandão-Jornal da Paraiba