Uma adolescente, de apenas 15 anos, era abusada sexualmente pelo próprio pai desde os 10. O acusado foi preso na noite da última segunda-feira (17), no município de Crateús, a 354 quilômetros de Fortaleza.
Assusta ver que pessoas tão próximas possam ser autoras de crimes como esse. Mais assustador é saber que o número de denúncias de abusos sexuais ainda é bem inferior à realidade dos fatos. Isso ocorre porque a maioria dos casos não é conhecida.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), de janeiro a março deste ano, 354 mulheres foram estupradas. O número representa média de quase quatro mulheres vítimas de violência sexual por dia no estado.
Do total, foram 294 crianças e adolescentes do sexo feminino, 55 maiores de 18 anos e 5 com idade não informada. Já de janeiro a dezembro de 2012, foram 1.147 estupros de mulheres com idade até17 anos, 226 de maiores de 18 anos e 20 com idade não informada.
Segundo a titular da Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dececa), Ivana Timbó, os dados são alarmantes. “O motivo do aumento do número de estupros é a falta de conscientização. Os principais casos que recebemos são de pais, padrastos e tios que abusam das crianças. Ou seja, o problema vem da própria família. Então deve haver uma reeducação cultural”, conta.
Poucos profissionais
Para minimizar a questão, os casos devem ser denunciados. “Ideal é que as pessoas possam comparecer à Dececa. Caso não queiram, podem fazer a denúncia em hospitais e escolas”. Além da ligação para o Disque Denúncia, número 100.
“Depois disso, fazemos de tudo para que a apuração seja rápida. Nem sempre averiguamos com celeridade, porque são muitos casos e não temos número suficiente de profissional”, confessa a delegada.
Cuidados com os filhos
Nos casos de abuso sexual, a criança é forçada fisicamente ou coagida verbalmente a participar da prática sexual sem ter ainda sua capacidade emocional e/ou cognitiva suficientemente desenvolvida para consentir, negar ou julgar o que está acontecendo.
De acordo com Ivana Timbó, os pais devem estar atentos ao comportamento dos filhos. “A situação gera na criança uma série de reações que não são próprias da idade dela. Então é preciso ter cuidado. Prestar atenção quando seu filho está no computador, por exemplo, que é um meio de comunicação tanto positivo quanto negativo. E sempre manter uma relação de confiança com a criança”.
Disque 100
Até abril deste ano, o Disque 100, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos,recebeu 524 denúncias de abuso ou exploração de crianças e adolescentes no Ceará. Desses, 253 foram em Fortaleza. Em relação ao mesmo período do ano passado, as denúncias de abuso aumentaram 19,8% e chegaram a 405. Já o número de denúncias de crianças e adolescentes explorados sexualmente chegou a 119.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca), abuso e exploração são diferentes. O abuso sexual acontece quando o corpo de uma criança ou adolescente é usado para satisfação sexual de um adulto, com ou sem o uso da violência física, e pode ser dentro ou fora do ambiente familiar. Já a exploração sexual é caracterizada pelo uso de jovens em atividades sexuais remuneradas, como no comércio do sexo.
Os sete sentimentos capitais
A pesquisa “Os sete sentimentos capitais”, da Rede Aquarela, programa da Prefeitura de Fortaleza que executa ações de enfrentamento ao abuso contra jovens, na capital cearense apontou os 10 bairros com maior incidência do problema: Barra do Ceará, Jangurussu, Praia de Iracema, Beira-Mar, Praia do Futuro, Castelão, Centro, Avenida Osório de Paiva, Avenida Expedicionários com São Cristovão, um trecho da BR-116 e também nos terminais de ônibus.
Tribuna do Ceará