Assembleia Legislativa deve instalar CPI para apurar tráfico de pessoas na Paraíba


TravestisA Assembleia Legislativa deve instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias, trazidas nas últimas edições do jornal Correio da Paraíba, sobre o tráfico de pessoas da Paraíba para a Europa. A iniciativa de apresentar a CPI foi da deputada Lea Toscano (PSB), que já recolheu 13 assinaturas. Pelo Regimento da ALPB, o mínimo seriam 12 assinaturas para abrir uma CPI.

Em sua justificativa, Lea Toscano cita o artigo 231 do Código Penal, alterado em 2005, para combater o tráfico internacional de pessoas: “promover, intermediar ou facilitar a entrada, no território nacional, de pessoa que venha exercer a prostituição ou a saída de pessoa para exercê-la no estrangeiro”. 

Segundo a deputada, com a CPI serão investigadas as denúncias e “outros casos poderão aparecer e a Assembleia Legislativa da Paraíba estará em consonância com as aspirações do povo, ao apurar algo tão abominável à humanidade”. 

Denúncia
O jornal Correio da Paraíba trouxe em sua publicação desta terça-feira (26) matéria que revela que mais de 10 mulheres paraibanas podem estar sendo vítimas de tráfico internacional de pessoas, conforme revelou a delegada de Defesa Institucional da Polícia Federal na Paraíba, Carolina Patriota. 

Segundo ela, há dois inquéritos em investigação, que indicam a existência de mais de cinco aliciadores. As investigações seguem em sigilo, mas já se sabe que o destino das vítimas é a Europa, a partir de Portugal. 

Nesta segunda, o promotor de Justiça Marinho Mendes denunciou que dois jovens homossexuais, de 18 anos, do município de Araçagi, no Brejo paraibano, estariam se preparando para embarcar para a Itália para trabalharem como “escravos do sexo”. Ele acredita que pelo menos 60 travestis da Paraíba já foram traficados para a Europa, dos quais 40 só de Araçagi.

O tráfico internacional de jovens homossexuais tem sido denunciado desde 2005 pelo Jornal Correio, o que fez com que o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho (MPT), Eduardo Varandas, apresentasse, em 2011, denúncia contra seis integrantes de uma quadrilha, a partir de investigações da Polícia Federal. A quadrilha, porém, continua solta por entraves nas relações internacionais entre Brasil e Itália.

A delegada Carolina Patriota informou que, desde que assumiu a delegacia, em 2011, está diante de dois casos, sendo um aberto em 2009 e outro também em 2011. Embora o caso das travestis tenha ganho repercussão, ela ressaltou que o tráfico de mulheres sempre foi muito mais frequente. “A prostituição é comum e muitas delas não se denunciam por achar que são parte do crime, ou por medo das ameaças que feitas contra elas, ou por acharem que a polícia não vai resolver”, observou, acrescentando que, em alguns casos, isso também não ocorre porque as vítimas criam vínculos com os aliciadores e não querem voltar ao Brasil, mesmo enfrentando essa situação. O grande problema, de acordo com a delegada, está aí, porque, sem denúncia, não há materialidade do crime, diferente do tráfico de drogas.

As investigações também dão conta de que, diferentemente do que ocorria no passado, Espanha e Leste Europeu deixaram de ser os destinos mais frequentes das vítimas de tráfico de pessoas. “Com a fiscalização mais rígida, espalhou. Agora, entram por Portugal, até porque, devido a uma série de contratos com o Brasil, quase nunca são barradas na imigração”, informou, fazendo uma constatação: “O tráfico de pessoas é mais rentável que o tráfico de drogas e o de armas”. A falta de denúncias, contudo, faz com que os criminosos dificilmente sejam pegos.

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