Estudo sugere que pior da Covid-19 já passou


Um grupo de epidemiologistas da Universidade de Princeton (EUA) simulou como será a pandemia em diferentes cenários, com ou sem vacina e com diferentes perfis de imunidade de rebanho, sugerindo que o pior já passou. Em nenhum dos oito cenários destacados pelos cientistas em estudo na Science, a Covid-19 volta a infectar tanta gente quanto em 2020. Em dois deles, porém, a oscilação da epidemia até 2025 tem picos anuais da mesma ordem de grandeza, não muito menores do que foi o de 2020.

Dois fatores cruciais para entender o futuro próximo da pandemia, mostram as simulações, serão a eficácia da capacidade de distribuição de uma vacina (caso surja uma), as características dos casos de reinfecção por Covid-19, se acontecerem com frequência, e a duração da imunidade natural que os infectados adquirem.

No cenário mais otimista (em que a imunidade natural é forte e duradoura, e a vacinação começa no meio do ano que vem), o pico da epidemia não se repete mais até 2025. No pior cenário (sem vacina e com imunidade natural fraca), a Covid-19 volta anualmente em picos grandes, da mesma ordem de grandeza daquele visto neste ano, mas não tão grandes.

As simulações levam em conta um cenário razoável de distanciamento social para 2020, em que a epidemia perde 60% da força ao longo de oito meses por causa de medidas de contenção, que não são retomadas nos anos seguintes. A ideia dos autores foi informar gestores públicos do que pode acontecer, não defender o fim das quarentenas. Levando isso em conta, é de se esperar que as epidemias subsequentes serão menores caso mantido o mesmo grau de isolamento.

O estudo parte de uma população abstrata, não levando em conta, em princípio, diferenças globais, mas avaliou diferentes tipos de clima. Em locais temperados, com estações do ano mais distintas, a segunda onda de infecções foi maior do que a segunda onda de locais com climas de temperatura menos oscilante, como se uma parte das infecções ficasse “represada” no verão.

Os cientistas reconhecem que os resultados das simulações são sensíveis a essa e outras variáveis, mas dizem ter buscado emular uma situação mais geral. Outra situação modelada foi a em que uma parcela razoável da população se recusa a tomar vacina. No cenário de imunidade temporária para casos de infeção natural, sem vacinação adequada os picos da epidemia se repetem anualmente.

Apesar da sofisticação, o estudo oferece pouca certeza ao projetar o futuro da epidemia. Os cenários variam entre a Covid-19 sustentada por cinco anos, no caso mais pessimista, e sua quase erradicação no caso mais otimista.

“Ilustramos prováveis complexidades na dinâmica futura da Covid-19, realçando a importância da caracterização imunológica que vá além da contagem de infecções ativas para projetar o panorama gerado pelas infecções de Covid-19”, escrevem os autores.

Segundo o estudo, caso se deseje melhor capacidade de predição para a pandemia, é preciso fazer com mais frequência pesquisas de grande escala com testes de anticorpos. Esses exames podem diagnosticar infecções passadas e ajudam a estimar o status de imunidade dos indivíduos.

Para reduzir os diversos cenários a uma gama menor de variação, será preciso entender melhor o curso da imunidade de longo prazo em indivíduos, e sua variação na população, além de monitorar a evolução do vírus: “Quantificar esses parâmetros vai requer grandes investimentos de longo prazo em vigilância imunológica e viral integradas”, dizem os pesquisadores.

Fonte: O Globo