Subnotificação encobre homofobia na Paraíba

As denúncias de casos de homofobia na Paraíba têm decrescido junto ao Disque 100 com o passar dos anos. Segundo números da Secretaria de Desenvolvimento Humano da Presidência da República (SDHPR), no primeiro semestre deste ano foram registradas 21 denúncias desse tipo no Estado. Para Organizações Não Governamentais que representam a comunidade LGBT, há uma subnotificação de casos, que permanecem silenciados devido à falta de divulgação dos serviços a eles direcionados.

Conforme levantamento solicitado pelo JORNAL DA PARAÍBA junto à SDHPR, o Estado registrou 28 denúncias de casos de homofobia junto ao órgão em 2011. No ano seguinte, esse número subiu para 95 denúncias, o que representou um aumento de 239,29% no número de registros. Depois disso, os números apenas caíram, passando para 59 denúncias em 2013, -37,89%, e 21 no primeiro semestre deste ano, número menor que o registrado no mesmo período do ano passado, 34, uma queda de 38,24%.

Para o presidente do Movimento do Espírito Lilás (Mel), Renan Palmeira, isso é reflexo do desconhecimento do serviço. Ele apontou a ausência de divulgações por meio da mídia impressa, radiofônica e televisiva quanto a isso. “Não é de hoje, a verdade é que nunca houve uma divulgação efetiva nos espaços frequentados pelo público LGBT. É triste ver essa realidade, principalmente porque a Secretaria de Direitos Humanos é responsável pela formulação de políticas públicas para as quais é necessário um correto mapeamento desses crimes”, lamentou.

O presidente do Mel ainda ressalta que a utilização que é feita desse instrumento de denúncia é de uma parte que não representa nem um pouco da realidade do que realmente é vivenciado pelo público LGBT diariamente. “Existe uma realidade homofóbica e temos que assumir que o preconceito é uma deficiência de nossa sociedade. Na prática, toda a política pública que é desenvolvida hoje parece que é apenas para prestar contas de que algo está sendo feito, por essa ser uma cobrança tanto nossa, dos grupos organizados, como também em nível internacional”, alfinetou.

E essa deficiência não é sentida apenas nas denúncias direcionadas ao Disque 100. Para Renan Palmeira, todos os órgãos do Estado ainda são pouco divulgados. Em sua opinião, isso aconteceria com o objetivo de não sobrecarregar um serviço que ainda é incipiente.

“O Centro de Referência LGBT funciona de forma limitada, em uma sala; a delegacia especializada que nós temos aqui atende apenas à capital, e ainda só tem três funcionários, não funciona em fins de semana nem à noite – que é quando mais acontecem crimes homofóbicos, não tem viatura e não tem equipe de investigação. Realmente, como ter divulgação se não tem estrutura?”, questionou. “A ausência de divulgação é uma forma de não sobrecarregar serviços que não estão estruturados para lidar com essa realidade homofóbica”, opinou.

Fonte: Othacya Lopes-Jornal da Paraiba