E se o 11 de setembro não tivesse acontecido? Entenda como seria o mundo


A primeira dúvida é quem seria o presidente dos EUA hoje. Antes do 11/9, George W. Bush era um governante apagado, rejeitado por quase 40% do eleitorado. Depois dos atentados, foi promovido a estadista com aprovação de até 90%. Não é à toa que para muitos analistas Bush jamais se reelegeria sem ter a bandeira da luta contra o terror. E, nesse caso, o atual presidente tampouco seria John Kerry, derrotado por Bush em 2004 - veterano do Vietnã, ele só foi para a disputa porque o clima bélico do país exigia candidatos com experiência militar.
Se os EUA não estivessem em guerra, os democratas teriam outro candidato. E Al Gore seria o favorito. Afinal de contas, ele havia recebido mais votos que Bush nas eleições de 2000 e só não levara a Presidência por causa do complicado sistema eleitoral americano.
Como seria a gestão Gore? Ambientalista das antigas, seu governo poderia ser marcado pela entrada dos EUA no Protocolo de Kyoto. Seria uma mudança significativa para o planeta – os americanos emitem 25% dos gases que provocam o efeito estufa. "Gore provocaria um efeito em cadeia. Teríamos mais empresas ecológicas, mais políticos preocupados com o verde", diz o jornalista Sérgio Abranches, especialista em questões ambientais. Para Abranches, até o Brasil sofreria conseqüências. "Seríamos pressionados a zerar as queimadas na Amazônia, que representam 80% das nossas emissões", diz.
Mas é bobeira acreditar que Bush entregaria a Presidência de bandeja. Sem o terrorismo, ele buscaria outras questões capazes de mobilizar a opinião pública. Em especial, os eleitores do interior, conservadores e religiosos, que sempre o apoiaram. "A Presidência focaria toda a atenção em eleitores famintos por ações firmes contra o aborto, a pesquisa com células-tronco e os direitos gays", escreveu o analista político Frank Rich na edição da revista New York dedicada a discutir como seria o mundo hoje sem os atentados de 2001. Se você se assustou com a onda conservadora que varreu a América sob Bush, pense que sem 11/9 talvez ela fosse mais forte ainda. Pior: com um presidente eleito especialmente para cuidar que as coisas ficassem assim.
Deus na escola
George Bush torce o nariz para quem diz que o homem evoluiu do macaco. Opinião, aliás, compartilhada por 55% dos americanos. Como 65% do eleitorado, o presidente gostaria de ver as escolas da América ensinando o "design inteligente", nome chique para a velha teoria bíblica de que foi Deus quem criou o homem. Com tamanha capacidade de mobilizar o público, é bem possível que o ensino do criacionismo perfilasse como carro-chefe de um governo "cristão".
Inimigo público
Que fundamentalismo islâmico que nada. Antes dos ataques, dizem analistas, eram os chineses que se encaminhavam para vestir a fantasia de inimigo número 1 da América. "A administração Bush tinha a crença de que China e EUA estavam destinados a uma guerra fria", escreveu Thomas Friedman, colunista do New York Times. Poucos no governo acreditavam que os dois países seriam capazes de dividir a hegemonia mundial em harmonia.
Direito do feto
Bush patrocina campanhas pró-abstinência sexual, apoiou restrições aos métodos abortivos e foi simpático ao estado de Dakota do Sul, que tenta proibir o aborto inclusive em casos de estupro. Mas a legislação nos EUA continua liberal – com maior ou menor dificuldade, toda americana consegue interromper uma gravidez. Lutar por uma nova lei, propondo uma emenda à Constituição, por exemplo, seria essencial para um Bush comprometido com os religiosos.
Instinto selvagem
Muitos acreditam que Bush inventaria uma guerra. "Se não contra o Iraque, contra o Irã; se não o Irã, o Hezbollah. Enquanto ele estiver no poder, existirão guerras", diz o professor Riordan Roett, da Universidade Johns Hopkins. Mas não há dúvida de que sem os atentados seria muito, mas muito mais difícil fazer a opinião pública apoiar uma guerra. E, sem o conflito, teria sido poupada a vida de cerca de 42 mil civis iraquianos – algo como 14 WTCs.
Choque previsto
Se o 11/9 não acontecesse em 11/9, ele viria em outra data – e hoje se chamaria 26/8 ou 16/12. O confronto entre fundamentalismo e Ocidente parecia inevitável. "O Afeganistão continuaria dominado pelo Talibã e a Al Qaeda estaria tranqüilamente abrigada lá. Clérigos continuariam a fomentar o ódio contra o Ocidente. Milionários sauditas continuariam financiando militantes. E continuariam existindo jihadistas planejando um ataque contra os EUA. A história seria atrasada, mas não negada", afirmou Fareed Zakaria, editor da revista Newsweek.
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