Na primeira sinopse do Censo 2010, divulgado na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma constatação que envergonha a Paraíba: o fantasma do analfabetismo atinge mais de 20% da população, cerca de 800 mil paraibanos. Na busca por respostas para o problema, surge uma denúncia grave: os programas federais criados para alfabetizar pessoas são alvos de fraudes no estado, com criação de "salas fantasmas", desvio de verbas públicas e escolha de profissionais que fazem de tudo, menos alfabetizar.
![]() No interior, casas velhas são usadas como salas de aulas do programa. Foto: Arquivo/programa educação popular/D.A Press. |
O resultado de uma série de fatores que afastam os programas de alfabetização de adultos de seu objetivo, provoca evasão escolar e empurra a Paraíba para a desconfortável situação de ostentar um dos maiores índices de analfabetos de todo o Brasil. A quantidade de irregularidades em programas de alfabetização fez o número de beneficiados do programa Brasil Alfabetizado, do governofederal, despencar em dois anos. Enquanto em 2007 foram cadastrados 75.049 no programa em 182 municípios, em 2009 esse total caiu para 59.553, em 176 cidades paraibanas.
A coordenadora do Programa Brasil Alfabetizado, Laurita Nascimento, afirma ter encontrado uma realidade caótica na aplicação do programa, como a existência de salas fantasmas. "Logo que chegamos, percebemos uma grande fragilidade: as turmas eram formadas, e por mais que os coordenadores locais atestassem via relatórios e freqüências o funcionamento delas, o monitoramento do Ministério da Educação e Cultura (MEC), através de seus consultores, mostrou que muitas delas não existiam de fato", revela.
Um dos fatos mais graves apontados pela coordenação é a possibilidade do aluno que ingressava no programa ser cadastrado no ano seguinte. Por causa da fraude, o Estado correu o risco de ser penalizado, sendo excluído do programa. "Ficamos no risco de não conseguirmos fazer a adesão em 2011, pois esse dado que informa se o aluno saiu ou não alfabetizado é solicitado pelo sistema do MEC e não foi preenchido. Tivemos que enviar um documento ao Ministério, informando essa condição na qual encontramos o programa", esclareceu Laurita Nascimento.
O flagrante de turmas fantasmas também foi detectado por outros profissionais que trabalham no interior no estado. A pedagoga Bernardina Carvalho coordena o programa de Extensão e Educação Popular e Jovens e Adultos, da UFPB, e em excursão pelos municípios para capacitar alfabetizadores se deparou com uma série de irregularidades. A pedagoga afirma que já encontrou em um município da Paraíba 30 turmas fantasmas. Ela considera que o programa Brasil Alfabetizado falha na forma de escolha e preparação dos alfabetizadores. "Qualquer organização pode se inscrever para a formação do alfabetizador. Não há qualidade e nem compromisso", esclarece a pedagoga.
O secretário da Educação, Afonso Scocuglia, confirmou que o Brasil Alfabetizado não vinha dando bons resultados na Paraíba, mas garantiu que em 2011 o programa vai ser aplicado com seriedade, ou seja, com o monitoramento constante das turmas. "A nossa meta é alfabetizar 40 mil pessoas na Paraíba. Para isso, formamos 3.491 alfabetizadores que já estarão em campo a partir do próximo dia 16. O programa, que foi totalmente reformulado, vai somar alfabetização à formação profissional", declarou.
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