CONTOS DE PRAÇA

Quem conheceu a Praça Joaquim Marinho em Várzea antes dos meados de junho de 2012, certamente deve concordar que este local aparentemente apenas constituído de concreto, em muito mudou. Isso não apenas pela visão física e ausência do verde das plantas, antes misturadas pela ferrugem amarela do tempo. 

Entre seus canteiros em formas de letras e a famosa calçada ladrilhada pela naturalidade do quartzito, a Praça Joaquim Marinho guarda em sua estrutura lembranças e peculiares histórias para muitas das gerações que ali sorriram em seus momentos de infância e adolescência. Não foi o meu caso, mas, nos poucos bancos que hoje restam, se formaram muitos dos casais várzeenses. Alias, namorar em praça pública naquela época era sinônimo de ficar popular no dia seguinte, o nome dos apaixonados com toda certeza não escaparia dos cochichos das esquinas – Nisso tudo, o espaço mais cobiçado era sempre o pergolado, localizado em ponto estratégico, defronte ao coreto que quase não reunia muitas pessoas e ao lado da histórica casa de João Balbina. 

O pergolado tinha muitas plantas e isso fazia com que o ambiente ficasse escuro, o que tirava a timidez de muita gente que ali ficava. Mas, de todos esses fatos o mais marcante é a ausência de “Cacheado” um funcionário ‘digamos’ voluntário, que independente de dia e horário estava sempre a cuidar da Praça e a prestar algum favor, se caso a ele fosse solicitado. Cacheado foi um dos filhos ilustres de Várzea e participou da história do país ao trabalhar na construção de Brasília, durante o governo Juscelino Kubitschek– Muitos dizem que o transtorno, pelo qual convivia, foi devido uma queda em uma das estruturas da obra. Lembro que em uma das conversas que tive com Cacheado, ele me dizia. “As pessoas dizem que Brasília foi construída por Juscelino Kubitschek, mas, quem a construiu foi o povo que trabalhou – Eu me lembro de tudo”. 

E para quem achava que cacheado não tinha consciência política, numa certa manhã, quando ele estava sentado no pergolado, lugar que sempre ficava a observar as pessoas, ele em seus dias não tão tranquilos pegou um pouco de estrume e ficou massageando nas mãos formando uma espécie de bola. Minutos depois passa um cidadão e pergunta: cacheado o que você está fazendo? Respondeu: Estou fazendo um vereador. Sem entender, o cidadão insistiu e disse. Porque não faz logo um Prefeito? Não seria melhor? A resposta foi imediata – Não faço porque a bosta é pouca. 

Sobre a política local Cacheado também costumava dizer que: “Se ser prefeito fosse ruim, ele seria o prefeito de Várzea”. As histórias de cacheado são apenas uma parte deste rico conteúdo folclórico que temos em nossa cidade, algo, formidável que independente do tempo, resiste na sobrevivência das muitas gerações que testemunharam ou ouviram todos esses acasos.

Entre esses e outros contos, teremos neste espaço, a oportunidade de descrever boas lembranças, um pouco da nossa própria história, história comprida e que merece ser registrada e reconhecida em mérito de nossa gente. Daqueles que contribuíram com o desenvolvimento e também para nós, que compomos parte deste livro escrito pelo tempo e abraçado à saudade de uma cidade.

Fonte: Epitacio Germano-Cidade Saudade